quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fernando Pessoa - Espírita, maçônico, teósofo, astrológo ou Rosa-Cruz?

            Há espíritas e teosofistas que o incluem entre os seus e os maçônicos também, por ele se ter manifestado contra a extinção ditatorial da Maçonaria, enquanto os rosa-cruz o julgam nas suas fileiras e os outros o catalogam como astrólogo. Haverá que respeitar, porém, a sua declaração: "Não sou maçon nem pertenço a qualquer Ordem semelhante ou diferente."
             
            Inclassificável? Fernando Pessoa foi um interessado por tudo sem ter sido militante de algo que o prendesse. Além de haver sido um "insincero verídico", conforme o definiu Adolfo Casais Monteiro: "Quando julgamos saber quem foi o homem que escreveu os versos, resta-nos sempre, inexplicado, o segredo que o possa fundir novamente com a vida que eles brotaram. E penso até que, quanto mais "fatos" conseguimos reaver, quanto mais claramente julgamos ter desvendado a teia da existência do poeta, tanto mais inviável se revela o esforço para tornar inteligível a passagem da existência para o ser, que é, na sua raíz, o essencial problema da criação poética."
           
           Evidentemente, estas palavras referem-se a Fernando Pessoa, acerca do qual salientou Casais Monteiro não ser necessária a "fé" do Poeta "para explicar uma grande parte da sua obra - nem sequer a Mensagem, cujo nacionalismo místico a situa muito próximo dos seus versos mais caracterizadamente ocultistas."
           
            Interessada no estudo do esoterismo pessoano, ao qual dedicou um livro e consagrou outros estudos, Dalila L. Pereira da Costa entende que o autor da Mensagem é, nesta obra, "o poeta da sua pátria". E questiona: "Na seriedade e na paixão de alma deste poeta, como duvidar do sentido profundo da missão que ele confiou à sua Mensagem?"

           Ao apresentar a poesia mágica, profética e espiritual de Fernando Pessoa, Pedro Teixeira da Mota não se exime de ressaltar que o poeta se filiou na traddição espiritual portuguesa de magos, videntes, discípulos e criadores: "Neste sentido se pode dizer com Fernando Pessoa e com eles: -'É a hora'."
                   
           Quer dizer, por outras palavras, que a Mensagem, por mais significativa que se revele, não é um acidente, mas um dos resultados colhidos pelo Poeta do Mistério. Na devassa do segredo é que ele realmente se empenhou, sempre na expectativa de encontrar "a chave". Ou as chaves. Ou os diferentes caminhos que poderiam conduzir ao segredo de todos os segredos.
                    
           Pedro T. da Mota, que transcreveu e publicou numerosos textos ocultistas pessoanos, comentando-os com conhecimento de causa, informa no prefácio do livro Rosea Cruz (de textos pessoanos) que no espólio do poeta português são numerosos os documentos que tratam não somente Rosea Cruz mas igualmente do Ocultismo, Franco-Maçonaria, Átrio, Subsolo, Caminho da Serpente e Ordem Templária de Portugal. E garante o investigador português que a compreensão do percurso e da obra de Fernando Pessoa, "sobretudo no seu aspecto hermético, tem ainda que ser considerada provisória face aos textos inéditos existentes no espólio e à sutileza do tema, que exige uma capacidade superior, quase diríamos, Rosa Cruz, difícil nos nossos dias."
                
       Não obstante, o investigador reuniu no mencionado livro dezenas desses textos, selecionados em 7 capítulos, incluindo uma antologia, da qual, destacamos alguns poemas que, com a devida vênia, reproduzimos pela primeira vez no Brasil: "Depuz, cheio de sombra e de cansaço," "Há cinco mestres de minha alma" e "Nunca os vi nem fallei". A maioria dos textos reunidos por Teixeira da Mota era desconhecida do público, mas outros já haviam sido comentados e parcial ou inteiramente divulgados, pois é conhecido há muito o interesse que Fernando Pessoa demonstrou pelo rosacrucianismo:
                    
          "Uma causa Infinita necessariamente produzirá um efeito infinito. Como o efeito, porém, se opõe à causa, será infinito de outra maneira"-- escreveu Fernando Pessoa. E adiantou: "O nosso universo, porém, é-nos dado como finito e temporal, pois, se o víssemos, infinito e eterno, não o poderíamos ver. O mundo externo, pois, como nós o temos e nele vivemos, não poder ser efeito de uma Causa Infinita, mas, tão somente, de uma das manifestações ou criações finitas da Causa Infinita. Temos, pois, que a Causa Infinita é a criadora da Realidade, que é infinita, e que uma Causa Finita é criadora do Universo. O Criador do Mundo não é o Criador da Realidade: em outras palavras, não é o Deus inefável, mas um Deus-homem ou Homem-Deus, análogo a nós mas a nós superior."
                    
          No seu já citado livro, Dalila Pereira da Costa destava um poema pessoano, "No Túmulo de Christian Rosencreutz" e observa que nesse tempo "só se verá sincretismo, e não uma síntese, interior e viva", como foi sempre a do poeta. E acrescenta que aquilo "que foi propriamente do poeta" se integra, "numa mesma estrutura coerente de símbolos e mitos; suas contradições sempre foram só psicológicas: crenças e descrenças, sucessivas e simultâneas, e falta de unidade anímica, que lhe impediram, numa dada época da sua vida, a plena integração: a regeneração por que ele então ansiava e lutava."