quarta-feira, 6 de abril de 2011

Fernando Pessoa e a Maçonaria

            Na autobiografia que redigiu com data de 30/3/1935 e que veio a ser publicada como introdução ao poema À memória do Presidente-Rei Sidônio Pais, em 1940, declarava-se "liberal dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reacionário", bem como a favor da Monarquia (mas considerava o sistema "inviável" em Portugal, no tempo, pelo que na hipótese de um plebiscito votaria a favor da República). Confessava-se ainda "cristão gnóstico", mas oposto às Igrejas organizadas: "Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria." Deixava em branco as informações sobre a sua "posição iniciática" e, politicamente, declarava-se "nacionalista que se guia por este lema: 'Tudo pela humanidade, nada contra a nação'." A posição social era a de "anti-comunista e anti-socialista", resumindo em três linhas todas as posições enunciadas: "Ter sempre em memória o mártir Jacques de Molay, Grã-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania."

            Somente em 1985, na exposição "Fernando Pessoa - O Último Ano", realizada na Biblioteca Nacional de Lisboa, foram divulgadas as 3 linhas da "poisção iniciática": "Iniciado, por comunicação direta de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal".

            Mas de que iniciação se trata? No artigo que publicou no Diário de Lisboa 4/12/1935 sobre as associações secretas, visando em particular a Maçonaria, cujas atividades foram proibidas pelo governo de Oliveira Salazar, afirmava Fernando Pessoa: "(...) Não sou maçom, nem pertenço a qualquer ordem Ordem semelhante ou diferente. Não sou porém anti-maçom, pois o que sei do assunto me leva a ter uma idéia absolutamente favorável da Ordem Maçônica. A estas duas circunstâncias, que de certo modo me habilitam a poder ser imparcial na matéria, acresce a de que, por virtude de certos estudos meus, cuja natureza confina com a parte oculta da Maçonaria - parte que nada tem de político ou social -, fui necessariamente levado a estudar também esse assunto - assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora."

            Prosseguindo, esclarecia o estudioso dos problemas do Ocultismo: "A Ordem Maçônica é secreta por uma razão indireta e derivada - a mesma razão por que eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, em o que hoje também se chamariam Lojas ou Capítulos, e que, para se distinguir dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento - toque, ou palavras de passe, ou o que quer que fosse. Por esse motivo os romanos lhes chamavam ateus, inimigos da sociedade e inimigos do Império - precisamente os mesmos termos com que hoje os maçons são brindados pelos sequazes da Igreja Romana, filha, talvez ilegítima, daquela maçonaria remota."

             Este artigo provocou uma série de comentários na imprensa portuguesa da época, além de dois opúsculos, um deles por inciativa do Grêmio Lusitano de Lisboa (maçônica), enquanto o outro suprime algumas passagens do artigo inicial e acrescenta outros comentários, não assinados.

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